16 outubro 2006

O rock morreu. Viva o rock

Com o poder cada vez mais nas mãos do ouvinte, o ciclo de nascimento, florescimento e morte de uma banda nunca foi tão veloz

Sérgio Martins

Cinco anos atrás, anunciou-se que o grupo americano The Strokes seria a salvação do rock. A festa durou pouco: antes de chegarem ao terceiro disco, eles já são considerados veteranos, tão distantes na linha do tempo quanto, digamos, os Ramones. Há menos de dois anos, os escoceses do Franz Ferdinand, inspirados pelo Strokes, se tornaram a bola da vez. Para o público que primeiro os consagrou, entretanto, eles já soam ultrapassados. Alguns meses atrás, esse pessoal decidiu trocá-los pelo Arctic Monkeys. A banda inglesa virou mania entre os freqüentadores do site MySpace, que rapidamente a promoveram à condição de fenômeno. Assim que a indústria fonográfica e as rádios convencionais encamparam o Arctic Monkeys, porém, sua popularidade evaporou, num processo que consumiu não mais do que um semestre. Podem-se tirar duas lições daí. A primeira é que o novo som de garagem inaugurado pelo Strokes parece estar perto de se esgotar. Ou seja, o rock morreu – de novo. Presume-se que renascerá em breve, embora sua próxima roupagem ainda seja desconhecida. A segunda lição é bem mais curiosa: à medida que cresce o poder da internet para coroar e depor reis do rock, diminui o poder da indústria fonográfica para fabricá-los, e mais se acelera o ciclo de nascimento, vida e morte de uma banda de rock. Como em tudo o mais, as preferências musicais do público que já nasceu na rede são efêmeras: mal o pessoal se entusiasma com um brinquedo, já se cansa dele e o descarta. E, para quem se dispuser a olhar esse quadro com mais atenção, ele contém ainda uma terceira e mais momentosa lição: trilha sonora indisputável do século XX, o rock chega ao século XXI na condição embaraçosa de apenas mais um entre muitos dos fundos musicais possíveis para a vida de um jovem ou de um adolescente.

O flanco mais vulnerável do rock, claro, é o do comportamento que se costumava associar a ele. Desde seu surgimento, no início dos anos 50, o primeiro mandamento do gênero foi provocar o máximo de desconforto nos mais velhos. Todos os seus ícones o cumpriram à risca: Elvis Presley com seu rebolado, os Rolling Stones com seu deboche, os Beatles com seu esoterismo, o The Who com suas atitudes destrutivas (que contemplavam inclusive o equipamento da banda), o Led Zeppelin com sua malícia. Mas como alguém pode se valer do rock para chocar pais que foram, eles próprios, roqueiros? A resposta é que não pode. Para atingir esse objetivo, hoje, existem ferramentas mais eficazes. Por exemplo, o batidão das raves, que irrita os remanescentes dos anos 60 com seu chamado à alienação. Ou o rap, que os preocupa com sua insolência, seu machismo e sua apologia da violência. Já cantar Whole Lotta Love imitando a lascívia de Robert Plant é capaz de, no máximo, despertar uma certa ternura nostálgica em papai e mamãe.

O assédio decisivo ao rock, porém, veio do mesmo instrumento que lhe deu origem – a tecnologia. Mais especificamente, de sua popularização. O momento está registrado com precisão no filme A Festa Nunca Termina, sobre a revolução que se operou a partir da cidade inglesa de Manchester, na virada da década de 70 para a de 80, com o nascimento de bandas eletrônicas como Joy Division e sua sucessora, o New Order. Durante uma festa no clube Hacienda, que serviu de sede ao fenômeno, o empresário Tony Wilson se vira para a câmera e alerta o espectador para um fato inédito: a multidão não está aplaudindo a banda, e sim o DJ. Em outras palavras, não a música, mas o meio. Aí começava a morte do riff de guitarra e o nascimento da batida. O "saber tocar", segundo mandamento do rock (que o punk e o grunge, liderado pelo Nirvana, já tinham como bandeira transgredir), simplesmente deixou de fazer sentido.

O terceiro golpe contra o rock está em pleno curso, graças a uma arma minúscula e poderosíssima – o tocador de MP3. A cada iPod vendido no mundo, tira-se mais uma lasca da fundação sobre a qual o gênero se construiu a partir dos anos 60: o "conceito", expresso em álbuns elaborados para conter novas propostas musicais ou temáticas. O consumidor abaixo dos 30 anos compra cada vez menos CDs, e cada vez mais baixa suas faixas preferidas do computador. Sem esse suporte físico, já não é possível ao artista determinar como suas criações serão ouvidas; o ouvinte agora é que manda no tal "conceito", ou na absoluta falta dele, conforme lhe convenha. Não é exatamente um ambiente propício para que despontem novas lideranças na música – e a prova vem da velocidade crescente com que megassucessos como Strokes, White Stripes ou Franz Ferdinand são desbancados pelos similares a que eles mesmos dão origem. Se você está com o rock e não abre, portanto, só há uma conclusão possível: um trintão mora na sua alma.

Veja o infográfico: Um auge cada vez mais curto (clique em cima)


http://veja.abril.com.br/181006/p_158.html

CBGB fechas as portas

Fachada do lendário bar CBGB, que fecha as portas neste domingo em NY

NOVA YORK (Reuters) - A famosa casa de punk-rock CBGB vai fechar as portas em breve, o que para alguns nova-iorquinos significa o fim de um lugar lendário, e para outros simboliza o processo de sofisticação de mais um bairro de Manhattan.

Sob o toldo vermelho do clube na noite de quinta-feira (12), vários jovens músicos fumavam e lamentavam a perda daquele lugar úmido e sujo, inaugurado em 1973. O último show, de Patti Smith, está marcado para domingo.

Os Ramones e os Talking Heads já tocaram ali. Deborah Harry, vocalista do Blondie, se apresenta no sábado no clube, cujo nome completo é CBGB OMFUG, sigla para "Country Bluegrass Blues and Other Music For Uplifting Gormandizers", ou seja, "country, blues, bluegrass e outras músicas para levantar os comilões."

"Fica mais difícil de ver quando a gente não está no ombro dos gigantes", disse o músico Ben Meyerson, 20. "Onde é que a gente vai ficar bêbado agora?", queixava-se seu amigo Peter Kalaitzidis, 21.

Para eles, o Bowery é mais um bairro de Manhattan a sucumbir aos interesses comerciais, depois que redes com os cafés Starbucks superlotaram os pontos do vizinho East Village, há alguns anos. "Estão vendendo isso aí, preparando para gente mais empresarial". disse Kalaitzidis.

O Bowery costumava ser conhecido por seus cortiços e bêbados, ou "Bowery bums", vagabundos do Bowery, um termo imortalizado na canção "Better Off Without a Wife", de Tom Waits. Hoje em dia, porém, a rua Bowery está repleta de caríssimos prédios de apartamentos, feitos em vidro e aço, deixando muitos moradores com saudades do tempo em que o CBGB simbolizava a agitação do lugar.

"O Bowery tinha reputação de favela, e agora é todo de aço e vidro", disse o poeta e historiador Michael Logan antes de um recente espetáculo no The Bowery Poetry Club, em frente à casa de punk-rock. "Percebemos que este seria o último lugar de Manhattan a ser 'melhorado' e virar burguês."

Logan lembra que há não muito tempo ainda se viam bêbados, estacionamentos vazios e pensões baratas. Hoje em dia, o que há são bares da moda e lugares para celebridades.

Muitos, como o CBGB, foram expulsos pelo preço do aluguel.

Hilly Kristal, dono da casa, disse que fundou o CBGB há 33 anos porque o aluguel era barato. Ele queria um lugar para música country, blues e "bluegrass", mas, naquela Nova York do começo da década de 1970, o punk logo dominou o lugar, lançando nomes como Television e Patti Smith.

Segundo ele, a mudança do bairro aconteceu "muito gradualmente, mas abruptamente nos últimos dois anos". Várias pequenas lojas e restaurantes também fecharam.

Para alguns, o fechamento do CBGB é o resultado das mudanças naturais do movimento artístico, que fez alguns passaram de Manhattan para o Brooklyn.

Logan lembra que nem todo mundo está chateado. "Se você perguntar para o Donald Trump, ele dirá 'ótimo"', disse ele, brincando que o bairro pode mudar de novo. "Todo este vidro e aço será o cortiço dos sem-teto do futuro."

Mas para Kristal e o CBGB, isso não importa. O proprietário espera reabrir a casa em Las Vegas, levando muitos dos itens originais consigo, inclusive os mictórios.

http://g1.globo.com/Noticias/PopArte/0,,AA1310214-7084-1987,00.html

03 outubro 2006

“Lei Seca” é descumprida por bares e quiosques da orla de João Pessoa


Comerciantes aproveitaram a falta de fiscalização nas praias e infringiram a portaria da “Lei Seca”, que proibia a comercialização de bebidas alcoólicas das 7 horas às 18 horas de ontem. Apesar de o movimento ser considerado fraco, era visível a venda de bebidas, principalmente de cerveja, nas mesas da praia.

A portaria que instituiu a “Lei Seca”, válida para todos os 223 municípios paraibanos, diz que o estabelecimento comercial que estivesse comercializando bebidas alcoólicas seria fechado e o dono seria preso, além de responder a processo. Diferentemente dos anos eleitorais anteriores, a proibição começava na véspera das eleições, mas este ano foi estipulado no intervalo de uma hora antes da votação e uma hora depois da votação.

A comerciante Joelda de Sá, que vendia abertamente cervejas aos clientes na Praia de Cabo Branco, disse que “a necessidade de sobrevivência e os cheques que terão de ser pagos nesta segunda-feira é mais forte que obedecer à Lei Seca”. Joelda considera desnecessário a proibição de bebidas alcoólicas em dia de eleição. Para ela, a bebida não interfere na lucidez dos eleitores. “As pessoas já votaram e vieram à praia apenas aproveitar o restante do dia de lazer”, justifica. Segundo a comerciante, “o que deveria ser proibido era essa roubalheira desses candidatos e políticos do País. Isto é que está errado”, rebateu. Joelda disse ainda que sempre vendeu “um pouquinho de bebida alcoólica no dia das eleições e nunca houve problema”.

A barraca vende normalmente de 20 a 25 caixas de cerveja aos domingos, mas, como o movimento estava fraco no dia de ontem, Joelda estima que não venderá mais que oito caixas. “Até o meio-dia, essas mesas deveriam estar lotadas de clientes, mas a votação e, principalmente, a proibição de bebidas alcoólicas esvaziou a praia”, acredita. Joelda Sá disse que o lucro por uma caixa de cerveja (24 garrafas) é de apenas R$ 11. “Lucro mais nas vendas do tira-gosta e, normalmente, as pessoas só comem quando bebem cerveja”, frisou.

O trabalhador Diego de Paula, 23 anos, que tomava uma cerveja normalmente numa mesa na praia, disse que não foi informado sobre a proibição e ficou supreso. “Pensei que poderia tomar uma cerveja na praia até porque já votei, mas como soube agora vou tomar apenas a que está na mesa”, afirmou. Alguns banhistas que bebiam abertamente não quiseram falar com receio da “Lei Seca”. Outros eleitores cautelosos não quiseram arrriscar e bebiam refrigerantes.

Joelda explicou que a venda de bebidas alcoólicas sempre foi desrespeitada e nunca houve nenhum problema com isso. Ela ressaltou ainda que boa parte das pessoas nem tomou conhecimento da proibição e destacou que isso ocorre, porque em alguns anos o comércio é liberado, sem que haja qualquer restrição. A mesma posição é compartilhada por outros comerciantes.

http://jornaldaparaiba.globo.com/cida-02-021006.html